sábado, 14 de novembro de 2015

ALINHANDO OS TERMOS: 
INOVAÇÃO E ECONOMIA CRIATIVA
Daniele Farfus

Este artigo apresenta referências teóricas e práticas sobre inovação, correlacionando-as à economia criativa, tendo como principal objetivo levar o leitor a refletir sobre algumas perspectivas fundamentais do século XXI. Inicia-se com a apresentação de conceitos básicos que irão apoiar as discussões sobre inovação e economia criativa. Na sequência, apresenta-se a concepção de produtos de inovação, processos e serviços que, associando ao tema economia criativa, apresenta possibilidades concretas na sociedade globalizada, bem como a instigação sobre a inserção e apropriação de conceitos sobre desenvolvimento sustentável, organizações sustentáveis e organizações em aprendizagem.

ALINHANDO A CONVERSA

Você já parou para analisar o cenário mundial no qual estamos inseridos?
Vivemos atualmente em uma sociedade globalizada, com acessos tecnológicos múltiplos. Fronteiras desapareceram e distâncias foram encurtadas.  Presenciamos diariamente o outro em nossos lares, seja por meio das mídias televisivas ou por meio da internet. O mundo se transforma de forma síncrona e acompanhamos as mudanças, muitas vezes de forma passível, assistindo como expectadores.
Mas precisamos compreender que as transformações requerem uma atitude consciente, sobretudo de perpetuação de questões que são essências nas culturas locais, para a promoção do desenvolvimento global. Inovar é a palavra de ordem, não um modismo. Pode ser compreendida como uma possibilidade para o redesenho de estruturas, sobretudo quando associada a preocupações com temas como: desenvolvimento local, promoção do outro, desenvolvimento sustentável, mercados emergentes e outros.
A economia criativa navega por um cenário de novas possibilidades a partir da realidade na qual está inserida, ou seja, a inovação na área de serviços, mas de forma organizada e com peculiaridades que se apresentam ao tema para uma reestruturação futura.
Assim sendo, a comunidade do futuro é uma comunidade está em construção, sendo as gerações que virão dependentes dela. A inovação e a economia criativa irão, com certeza, contribuir para esta comunidade que está em construção.
E você, de que forma está contribuindo? Ou, quem sabe, iniciando seu processo de contribuição?

Vale a pena a reflexão a seguir:
O homem, nesse contexto, é em sua essência singular, mas precisa do outro para atuar e ser social. Partindo dessa premissa, é necessário que ele repense e compreenda como a sociedade se transformou e de que forma pode reinventá-la. Este é um convite de reflexão para cada indivíduo que compõem o todo social.
Você é convidado especial para uma construção coletiva, que some os esforços, conecte as experiências e contribua para a mudança de comportamentos, buscando a consolidação do termo economia criativa em um contexto de sociedade complexa e dinâmica.
Assim, “[...] a inovação é um processo que começa nas mentes de pessoas imaginativas. Não é por outra razão que os modelos de inovação sempre fazem alguma referência às fontes de ideias em alguma fase do processo de inovação[...]”  contemplada e perpassando pelos principais tópicos que abordam o tema economia criativa.
Inicialmente serão apresentados os conceitos de inovação, correlacionando-os aos aspectos fundamentais do desenvolvimento sustentável. Posteriormente, será abordada a questão da inovação associada à economia criativa, sustentando, estas poucas páginas, a pretensão de semear um novo paradigma:
É dentro deste novo paradigma eu precisamos situar-nos para sermos capazes de nomear os novos atores e os novos conflitos, as representações do eu e das coletividades que são descobertas por um novo olhar, que põe diante de nossos olhos uma nova paisagem.
Uma paisagem recoberta de pessoas com o modelo mental contributivo para com o desenvolvimento econômico da sua localidade, por meio da economia criativa, fazendo parte da consolidação deste conceito.

CONTEXTUALIZANDO A INOVAÇÃO
Você já deve ter percebido o quanto tem se falado sobre inovação nos últimos tempos. Mas porque será que todos falam? Será que é somente para atender ao cenário econômico? Será que se inova somente para se buscar competitividade industrial? Ou quem sabe existam questões sistêmicas que possam ser consideradas?
Particularmente, adoro a ideia de uma visão mais abrangente, e convido você a navegar nesta possibilidade comigo.

INICIANDO A REFLEXÃO
A partir de estudos, percebe-se que novos referenciais estão sendo continuamente buscados para a criação de soluções que agreguem valor para todos:
[...] na vida social de hoje, somos incessantemente confrontados pela questão de se e como é possível criar uma ordem social que permita uma melhor harmonização entre as necessidades e inclinações pessoais dos indivíduos, de um lado, e, de outro, as exigências feitas a cada individuo pelo trabalho cooperativo de muitos, pela manutenção e eficiência do todo social. Não há dúvida de que isso – o desenvolvimento da sociedade de maneira a que não apenas alguns, mas a totalidade de seus membros tivesse a oportunidade de alcançar essa harmonia – é o que criaríamos se nossos desejos tivessem poder suficiente sobre a realidade.
Temos, por meio dos processos criativos, o poder de interferir em nossas realidades de forma consciente, quando buscamos a articulação dos indivíduos em rede, trabalhando de forma sintonizada e harmônica, potencializando o que define Elias (1994, p. 19): “[...] Não há dúvida de que cada ser humano é criado por outros que existiam antes dele. Ele cresce e vive como parte de uma associação de pessoas, de um todo social – seja este qual for [...], e onde se localize, no passado, no presente ou futuro”. A economia criativa abrange estes aspectos quando se propõe a ampliar a criar uma teia de produção de riqueza cultural na sociedade atual.
Posicionar-se em relação a essa teia é ponto de partida para a possibilidade de revisitar modelos e reestruturá-los, cada pessoa na sua comunidade, atuando no seu próprio tempo, compreendendo o seu entorno e construindo possibilidades de forma harmoniosa com um posicionamento emergente para a vida de forma sistêmica, porque:
O que está em jogo não é propriamente a Terra, mas a qualidade de vida humana e do processo civilizatório conforme nos acostumamos a conhecê-los. Isto significa lidar com aspectos econômicos, tecnológicos, sociais, culturais e políticos que vão além das questões do ambiente natural. Tornou-se imperativo compreender que nunca poderemos construir e conservar um sistema harmonioso se o ponto de partida for uma visão estreita.
Assim, neste contexto de sociedade ampliada, fundamental será fortalecer o conceito de atuação em rede, como:
[...] um conjunto de nós interconectados. Nó é o ponto no qual uma curva se entrecorta. Concretamente, o que um nó é depende do tipo de redes concretas de que falamos. [...] Redes são estruturas abertas capazes de expandir de forma ilimitada, integrando novos nós desde que consigam comunicar-se dentro da rede, ou seja, desde que compartilhem os mesmos códigos de comunicação [...] Uma estrutura social com base em redes é um sistema aberto altamente dinâmico suscetível de inovação sem ameaças ao seu equilíbrio.
Sim, a atuação em rede, na qual um depende e é interdependente dos outros, faz-se presente. Para avançarmos, precisamos dos outros, com suas competências e seus olhares, muitas vezes divergentes dos nossos. Para a economia criativa, a atuação em rede é condição essencial!

BASES TEÓRICAS QUE SUSTENTAM A INOVAÇÃO
Mas e a inovação, onde se encontra? Encontra-se em:  um processo de procura, descoberta, experimentação, desenvolvimento, imitação, e, adoção efetiva de novos produtos, de novos processos de produção ou novos arranjos organizacionais. A inovação envolve uma atividade intrinsecamente incerta de pesquisa e solução de problemas, baseada em variadas combinações de conhecimentos públicos e privados, princípios científicos gerais e experiências idiossincráticas, procedimentos sistematizados e competências tácitas.
Temos também o que poderemos chamar documento referência para a inovação, que é o Manual de Oslo, que foi concebido pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), sendo a principal referência no tema. Para esta publicação, “A inovação é um processo contínuo. As empresas realizam constantemente mudanças em produtos e processo e buscam novos conhecimentos, e vale lembrar que é mais difícil medir um processo dinâmico do que uma atividade estática” (OCDE, 2005, p. 21). Isto é inovação.
Ainda de acordo com o Manual de Oslo (OCDE, 2005, p. 23), existem quatro tipos de inovação:
1.            Inovações de produtos: envolvem mudanças significativas nas potencialidades de produtos e serviços. Incluem-se bens e serviços totalmente novos e aperfeiçoamentos importantes para produtos existentes
2.            Inovações de processo representam mudanças significativas nos métodos de produção e distribuição.
3.            Inovações organizacionais referem-se à implementação de novos métodos organizacionais, tais como mudanças em práticas de negócios, na organização do local de trabalho ou nas relações externas da empresa.
4.            As inovações de marketing envolvem a implementação de novos métodos de marketing, incluindo mudanças no design do produto e na embalagem, na promoção do produto e sua colocação, e em métodos de estabelecimento de preços de bens e de serviço.
O documento aborda a inovação como: a implementação de um produto (bem ou serviço) novo ou significativamente melhorado, ou um processo, ou um novo método de marketing, ou um novo método organizacional nas práticas de negócios, na organização do local de trabalho ou nas relações externas.
Então, para definir inovação, o básico é que haja novidade ou significativa melhoria para determinado objeto, incluindo produtos, processos e métodos em que as empresas são pioneiras e aqueles que foram adotados de outras empresas ou organizações.
Paralelamente a esta questão, precisamos refletir se a inovação promove o desenvolvimento econômico. Segundo Farfus (2008, p. 340), “afirma-se que há um elo indissociável entre inovação e desenvolvimento econômico, na medida em que a criação e difusão de novos conhecimentos alavanca o surgimento de novos produtos e métodos”. Desse modo, o conceito de inovação apresenta os seguintes aspectos, de acordo com o Manual de Oslo (OCDE, 2005), a inovação:
a)            Está associada à incerteza sobre os resultados das atividades inovadoras;
b)           Envolve investimentos que podem render retornos potenciais no futuro;
c)            É o substrato dos transbordamentos de conhecimentos;
d)           Requer a utilização de conhecimento novo ou um novo uso ou combinação para o conhecimento existente;
e)           Visa a melhorar o desempenho de uma empresa com ganho de uma vantagem competitiva por meio da mudança da curva de demanda de seus produtos ou de sua curva de custos ou pelo aprimoramento da sua capacidade de inovação.
Para que isso ocorra, fundamental é a formação de um capital intelectual orientado para essas questões, como também que outros setores econômicos compreendam com clareza a importância dos processos inovadores para diversos contextos organizacionais, com a clareza do que abrange o seu conceito.

PARA ALÉM DA INOVAÇÃO
O desafio atual colocado é que as inovações estejam alicerçadas no conceito de desenvolvimento sustentável em organizações diversas. A apropriação desse conceito se faz necessária para diferentes pessoas/profissionais; sobretudo, ainda é fundamental sua disseminação.
As primeiras discussões em relação ao tema datam de 1972, em um documento intitulado The limits to growth, produzido pelo Clube de Roma. Tal documento reforça a ideia de que questões relacionadas ao meio ambiente ocorrem de forma mundial e acelerada. Muito aconteceu desde então e, em 1987, é publicado um relatório, denominado Relatório de Gro-Brundland, elaborado por uma Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, que define com precisão o termo “desenvolvimento sustentável”, até hoje utilizado e não conquistado:
O desenvolvimento que procura satisfazer as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem as suas próprias necessidades, significa possibilitar que as pessoas, agora e no futuro, atinjam um nível satisfatório de desenvolvimento social e econômico e de realização humana e cultural, fazendo, ao mesmo tempo, um uso razoável dos recursos da terra e preservando as espécies e os habitats naturais.
Para o cenário de inovações pautadas no conceito de economia criativa, ainda podemos refletir sobre inovações que promovam organizações sustentáveis, que representa: simultaneamente procura ser eficiente em termos econômicos, respeitar a capacidade de suporte do meio ambiente e ser instrumento de justiça social, promovendo a inclusão social, a proteção às minorias e grupos vulneráveis, o equilíbrio entre gêneros, etc. 
Ainda vale trazer, indo além do tema inovação, a ideia de organizações em aprendizagem, que são: as organizações em que as pessoas expandem continuamente sua capacidade de criar os resultados que verdadeiramente desejam, onde novos e amplos modelos ou pensamentos são educados, onde a aspiração coletiva é um conjunto livre, e onde pessoas estão aprendendo continuamente como aprender juntos.
Fundamental para o conceito de economia criativa é a inovação, associada ao conceito de desenvolvimento sustentável, compreendendo a importância de organização sustentável e ainda com uma “pitada” de organizações em aprendizagem.

SEM LONGOS DISCURSOS
De forma breve, estas páginas tiveram como objetivo instigar você, leitor, a se aprofundar no tema inovação, compreendendo seu posicionamento estratégico para o redesenho social. Dessa forma, tive a pretensão de somente apresentar alguns conceitos fundamentais e essenciais para que você continuasse a descobrir a inovação como um universo de possibilidades, ainda mais, se associado ao conceito de economia criativa.
Há que se considerar, entretanto, que a inovação é essencial para a manutenção das organizações no século XXI, e aquelas que não compreenderem esta importância talvez deixem de existir no mercado globalizado. A economia criativa também começa a ocupar o seu lugar de destaque neste cenário. Ampliar o olhar, quando se propõe a realizar algo grande, não necessariamente em tamanho, mas em propósito, é essencial, e a inovação associada a outros aspectos teóricos abordados pode levar você, leitor, à realização de ideias inovadoras, muito além do que se propôs inicialmente.

Convidei você, no início deste artigo, para navegar comigo em um cenário sistêmico para a inovação. Espero que sua curiosidade tenha sido despertada, pois somente em poucas páginas o tema não se esgota, e acredito que, como processo criativo, não existe possibilidade de esgotamento, pois, a partir de novas conexões, novas redes, referenciais e experiências, você pode ir além e fazer com que a economia criativa produza mudanças significativas no seu contexto local, contribuindo para o movimento global.


Economia Criativa - Inovação, Cultura, Tecnologia e Desenvolvimento

Organizadores: John Jackson Buettgen e Schirlei Mari Freder https://www.jurua.com.br/shop_item.asp?id=23796

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