sexta-feira, 30 de maio de 2014

O contexto internacional e brasileiro da economia criativa.

                                                


A economia criativa tem ocupado a pauta de diversos governos e de organizações internacionais e nacionais de modo mais intenso nos últimos cinco anos embora apresente uma trajetória anterior. O que é possível perceber é que ainda não há pontos de consenso nas correntes teóricas, mesmo assim vários estudos se intensificam na busca de meios operacionais para a base conceitual e começam a surgir alguns resultados empíricos em modelos sobre economia criativa, classes criativas e cidades criativas (Procopiuck e Freder).

Nas principais discussões sobre o tema, entende-se que o mesmo tem sua base principal em setores econômicos que tem por base o conhecimento, as ideias e a criatividade. Tem sido abordada de maneira transversal e multidisciplinar nas áreas de inovação, economia da cultura, empreendedorismo, sustentabilidade, entre outras. O autor inglês John Howkins em seu livro “The Creative Economy”, entende que a Economia Criativa são as atividades nas quais resultam em indivíduos exercitando a sua imaginação e explorando seu valor econômico e também afirma que a economia criativa sempre existiu, mas por ter a base no intangível ficou às margens do sistema econômico tradicional.

No Brasil, por meio do Ministério da Cultura - MinC, desde 2011 vem sendo implementados programas e ações de fomento e incentivo e que tem promovido o tema. As setores incluídos pelo  MinC em seu Plano Brasil Criativo são os vinculados à cultura com a inclusão das criações funcionais. São elas:

    · Patrimônio (material, imaterial, arquivos, museus);
          · Expressões culturais (artesanato, culturas populares, culturas indígenas, culturas afro-brasileiras, artes visuais, arte digital);
          ·  Artes de espetáculo (dança, música, circo, teatro);
          ·  Audiovisual, livro, leitura e literatura (cinema e vídeo, publicações e mídias impressas); 
          ·  Criações funcionais (moda, design, arquitetura).

Mas em outros países, tem-se observado o tema não se encerra na área cultural e abrange outras áreas, tais como: software, games, turismo, urbanismo, propaganda, publicidade, gastronomia, ciência e tecnologia.

Acerca dos dados sobre a cadeia produtiva no Brasil, a FIRJAN publicou uma nota técnica em 2011 e  aponta que atividades relacionadas e de apoio ao núcleo criativo, a participação no Produto Interno Bruto (PIB) nacional pode chegar a de 18,2% e equivale a movimentação de R$ 667 bilhões. Na pesquisa foram considerados setores de serviços que tem a criatividade como parte principal do processo produtivo, segmentos de provisão direta de bens e serviços ao núcleo criativo e compostos em grande parte por indústrias e empresas de serviços fornecedoras de materiais e elementos fundamentais para o funcionamento do núcleo, e atividades que englobam provisão de bens e serviços de forma indireta.

Por ser um conceito em construção os parâmetros utilizados para entender a área podem compreender a criação, produção e distribuição de produtos e serviços que usam a criatividade, o ativo intelectual e o conhecimento como principais recursos produtivos e incorpora elementos tangíveis e intangíveis dotados de valor simbólico.

No grande leque de entendimentos acerca do termo, cabe citar a referência dada à Economia Criativa por organizações internacionais e pelo MinC no Brasil:

A UNESCO adota o conceito da Economia da Cultura que engloba atividades relacionadas [...] à criação, produção, e comercialização de conteúdos que são intangíveis e culturais em sua natureza. Estes conteúdos estão protegidos pelo direito autoral e podem tomar a forma de bens e serviços. São intensivas em trabalho e conhecimento e que estimulam a criatividade e incentivam a inovação dos processos de produção e comercialização (Unesco, 2005) .

Já a UNCTAD entende que Economia Criativa é o ciclo que engloba a criação, produção e distribuição de produtos e serviços que usam o conhecimento, a criatividade e o ativo intelectual como principais recursos produtivos. É um dos setores mais dinâmicos do comércio internacional, gera crescimento, empregos, divisas, inclusão social e desenvolvimento humano (Unctad, 2005).

Para o MinC a Economia Criativa contempla as dinâmicas culturais, sociais e econômicas construídas a partir do ciclo de criação, produção, distribuição, circulação, difusão e consumo de bens e serviços oriundos dos setores criativos, caracterizados pela prevalência de sua dimensão simbólica (MinC, 2012).

De forma geral, as ações propostas para implementação do tema no Brasil estão fortemente vinculadas às políticas culturais e este fato pode comprometer a implementação da proposta brasileira, entre as dificuldades pode-se citar a articulação com outras políticas públicas, resistência no compartilhamento de orçamento em nível regional e nacional e prejudicando a discussão com setores econômicos vinculados a economia e indústria tradicional.


Referências

Brasil. Plano da Secretaria da Secretaria da Economia Criativa: políticas, diretrizes e ações, 2011 - 2014. Brasília: Ministério da Cultura, p. 154. 2011.
FIRJAN - Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro. A cadeia da indústria criativa no Brasil. Rio de Janeiro: Firjan, 2008.32 p.
UNCTAD - United Nations Conference on Trade and Development. Creative Economy: the challenge of assessing the creative economy - towards informed policy-making. Geneva: United Nations, 2008.331 p.
_______. Creative Economy: a feasible development option. Geneva: United Nations, 2010.392 p.
_______. Fortalecendo as industrias criativas para o desenvolvimento. Geneva: United Nations, 2011.76 p.
_______. Creative Economy Programme Geneva: United Nations Conference on Trade and Development, 2013. Disponível: <http://unctad.org/en/Pages/DITC/CreativeEconomy/Creative-Economy-Programme.aspx>, em: 23/01/2013.
Unesco - United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization. The Creative Cities Network. Paris: 2013.


Schirlei Mari Freder, Administradora, fotógrafa, mestranda em Gestão Urbana (PUCPR), especialista em Gestão Social e Desenvolvimento Sustentável, Diretora da Creare Consultoria. Docente, conteudista e pesquisadora nas áreas de Gestão das Organizações, Empreendedorismo Social e Economia Criativa. Desenvolve atividades voluntárias em diversas organizações entre elas Conselho Regional de Administração do Paraná; a Cátedra Ozires Silva; Conselho Polônico no Brasil; ABCR/PR. (e-mail de contato: crearegs@gmail.com)

terça-feira, 27 de maio de 2014

Quem pode criar?

(Foto by Kirst Kelly - extraído de 

Senso comum é uma noção ambígua. Podemos entendê-la como um conhecimento que é comum e compartilhado por todos, e por isso, constitui a noção mais generalizada de nossas crenças e valores.

Mas também podemos entendê-la como uma falta, algo que carece de profundidade e validade. Neste sentido uma opinião pode ser desmerecida por se tratar exclusivamente de senso comum, algo que seria falado aos quatro cantos, mas que não possui bases sólidas para um julgamento assertivo.

Nesse sentido é que pesa a crítica de consultores especializados em estratégia de negócios. Criticam a vertente da criação colaborativa por esta partir do senso comum, do conhecimento ou da capacidade criativa de pessoas comuns, concluindo daí, que por se tratar do que é comum, nada de especialmente novo poderia surgir.

Talvez daí a necessidade de que mais e mais os especialistas, necessitem criar novos rótulos para si mesmos. Quando o público em geral já entende um rótulo, já está na hora de se criar uma nova área, mais inacessível que a anterior, para a valorização dos seus papéis como sistematizadores.

Afinal, quem propõe algo é porque deve ter razões ou métodos para tal, certo?

Mas raramente escuto executivos, dizerem que alguma proposição os surpreendeu pela originalidade e ineditismo.

Os consultores saem na defensiva, em geral se colocam distanciados numa atitude blasé, como se nada os tirassem de seus eixos, conquistado às duras penas.

Na prática as propostas que acabam vingando são decorrentes de desdobramentos de direcionamentos maiores, normalmente de ordem estratégica, definidas nos escalões superiores.

Nesse sentido, como estão enredados naquilo que conhecem, caberia a este grupo apenas validar ideias geradas por especialistas, pois estes têm condições de justificar as propostas geradas.

Aceitamos isso, sem pensar, como se tivéssemos frente a frente a algum tipo de mecanismo que funciona misteriosamente, sem termos condições de identificar exatamente o que se passa.

Desta forma a cocriação foi ganhando a conotação de um processo de validação de ideias junto aos clientes, assim como é feito através de pesquisas de mercado, mas com protótipos ou algum nível de concretização maior, conferindo ao processo uma apreciação mais objetiva.

A noção acima, também convive com outra ideia de senso comum, que é a dos funcionários de fato terem mais contato com os problemas diários da organização. Nesse sentido, dever-se-ia considerar que os mesmos em relação com os demais stakeholders são a própria constituição viva e presente do ecossistema em que a organização está inserida.

Entretanto, essa noção não é suficientemente forte para que se aposte e valorize verdadeiramente na capacidade dos que estão “fora” da organização, considerando aí os clientes e demais stakeholders externos à empresa.

Se a um só tempo precisamos contar com os saberes dos funcionários, clientes e demais stakeholders, pois são esses que realmente possuem o entendimento do que é comum nas suas respectivas perspectivas, porque não contar também com sua capacidade imaginativa mais livre, menos enviesada?

Acredito que isso se dê porque valorizamos acima de tudo os saberes técnicos e específicos provenientes da especialização. Quanto mais sairmos do rol de possibilidades e soluções provenientes destes saberes, tanto menor será o valor conferido as propostas.

Entretanto gostaria de trazer uma ideia que também vai contra o senso comum, nesse caso do que está estabelecido pelas boutiques consultivas.

Justamente por não respeitar os formalismos que as diferentes áreas do conhecimento apresentam é que é possível partir para um processo criativo mais aberto e menos pautado por considerações preliminares do que seja certo ou errado em relação a uma questão.

Ford pensava em minimizar os esforços no manuseio de máquinas e equipamentos em sua fazenda, ainda na infância, pela interação inusitada e coordenada de trabalhadores e máquinas. Na idade adulta essa ideia avançou para o sistema de produção em massa. Entretanto Ford nunca teve uma educação formal. Não enquanto gestor.

O que se perderia em termos de profundidade técnica das soluções, num primeiro momento, ganharia em possibilidades imaginativas, ao rastrearmos os dramas humanos presentes na nossa vida cotidiana, além de podermos conferir um grau maior de humanização nas soluções geradas.

Explico-me.

As pessoas amparadas pelo senso comum trazem consigo, também, seus ricos universos imaginativos, permitindo uma amplitude maior de interpretações, sentimentos e percepções, base para a geração de ideias, pois passam a multiplicar o seu saber, considerando as questões que as atingem diretamente.

Se conseguíssemos reverter em ideias o universo que cada pessoa traz consigo, suas experiências, noções de mundo, suas interpretações singulares e repletas de novos significados, teremos condições de tocar as questões no seu cerne gerador, que normalmente se associa as relações e dramas humanos, dando um maior senso de valorização para a subjetividade, sem a qual a criatividade não atinge seu mais alto grau de desenvolvimento.

O que ganhamos na ampliação da percepção dos problemas e no surgimento de soluções mais diversificadas pelo trabalho colaborativo com os nossos públicos alvos, compensará a falta de um embasamento mais técnico e sofisticado, ao menos num primeiro momento, por termos a condição de partirmos de ideias mais livres e desvinculadas de regras de perspectivação.

Não se trata claro de estabelecer uma dicotomia, entre criação oriunda de experts versus a criação oriunda do senso comum, pois precisamos compreender que os diferentes saberes possuem também diferentes características e capacidades de respostas. Um mais orientado para aquilo que é factível e outro mais orientado para o intuitivo.
Mas em termos de criação e geração de novos conceitos, quem pode garantir o que é mais adequado, nesse terreno aberto onde o que realmente importa é o desejo de criar livremente?

A cocriação que busca integrar os saberes de funcionários, gestores, clientes e demais stakeholders num esforço de criação conjunto, busca refletir e propor soluções a partir de percepções comuns, que ao mesmo tempo se transformam em extraordinárias, por conferir significado àquilo que está oculto.

Porém, é muito difícil imaginarmos qualquer tipo de solução hoje sem considerarmos algum tipo de solução de caráter tecnológico, considerando todas as suas questões e pormenores, donde o expert reafirma o seu papel por conseguir traduzir em resultados práticos a necessidade de concretização de boa parte das ideias.

A força imaginativa impulsionada pela percepção crescente de novas possibilidades é a grande força do trabalho cocriado.

Mas o que é percebido como força, também pode ser entendido como principal fraqueza, dependendo dos critérios utilizados.

Infelizmente, entendemos que para tudo na vida, exista algum tipo de especialização requerida.

A ideia de trabalharmos a partir do senso comum é que possui um fundo bastante incomum.


Marcelo Alessandro Fernandes é Engenheiro de Produção pela UFSC. Pesquisador das áreas de Imaginação, Cognição Criativa e Psicodrama. Possui Mestrado em Inovação também pela UFSC e formação em Psicodrama e Sociodrama pela ABPS. É membro do Comitê Executivo da Cátedra Ozires Silva de Empreendedorismo e Inovação Sustentáveis. (e-mail de contato: marceloalessandro@gmail.com)



segunda-feira, 26 de maio de 2014

Cátedra Londrina abre inscrições para Estudo de Iniciativas Sociais


Estão abertas as inscrições para o Projeto de Pesquisa da Cátedra Ozires Silva de Empreendedorismo e Inovação  Sustentáveis.

O projeto tem por objetivo  Investigar Iniciativas Sociais de Empreendedorismo e Inovação Sustentáveis para a construção da Cidadania em Londrina.

Os interessados  terão a possibilidade de publicar artigos e relatos de experiências em livro organizado pela Cátedra Ozires Silva.

Se você é membro da Cátedra, parceiro ou aluno do ISAE|FGV, faça sua inscrição!

Mais informações pelo e-mail tiago.garcia@isaebrasil.com.br
Ou pelo telefone 43- 33067715

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Cátedra Ozires Silva na Conferência Internacional de Cidades Inovadoras - CICI2014.



De 07 a 09 de maio acontece a Conferência Internacional de Cidades Inovadoras - CICI 2014, são vários eventos paralelos na programação. No dia 08/05 das 9h00 as 12h00 acontece o Fórum Diálogos Inovadores, onde haverá uma mesa redonda da Cátedra Ozires Silva sobre a temática “Inovação, Empreendedorismo e Sustentabilidade em Comunicações  Inovadoras”. Com apresentações de Sandro Binello – Instituto Eneagra – “Comportamento dos Indivíduos”, Meg Mamede – Cultura in Company – “Comunicação e Cultura na Blogosfera: Construindo Reputação”, Mário Alencastro – Grupo Uninter – “Ética e Responsabilidade Socioambiental”, John Jackson Buettgen – Centro Tecnólogico Positivo – “O Papel do Indivíduo no Impacto Social das Organizações”, Fábio Fagundes – JCI – “Empreendedorismo Social – O Case JCI”, Nelson Castanheira – Grupo Uninter – “Redes Sociais Profissionais” e Ricardo Dellamea – Sebrae – “Inovação Aberta e Start-ups, Antonio Raimundo – ISAE – “Inovações Educacionais: Desafios e Resistências", com mediação de Gustavo Fanaya – IBQP.

Serviço:
Conferência Internacional de Cidades Inovadoras - CICI2014
Onde: Universidade Positivo (Rua Prof. Pedro Viriato Parigot de Souza, 5300 - CIC, Curitiba)
Data: de 07 a 09 de maio de 2014.
Informações: (41) 3264-2246  ou (41) 3264-2270


(Fonte: CICI2014)
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