ALINHANDO OS TERMOS:
INOVAÇÃO E ECONOMIA CRIATIVA
Daniele Farfus
Este artigo apresenta referências teóricas e práticas sobre
inovação, correlacionando-as à economia criativa, tendo como principal objetivo
levar o leitor a refletir sobre algumas perspectivas fundamentais do século
XXI. Inicia-se com a apresentação de conceitos básicos que irão apoiar as
discussões sobre inovação e economia criativa. Na sequência, apresenta-se a
concepção de produtos de inovação, processos e serviços que, associando ao tema
economia criativa, apresenta possibilidades concretas na sociedade globalizada,
bem como a instigação sobre a inserção e apropriação de conceitos sobre
desenvolvimento sustentável, organizações sustentáveis e organizações em
aprendizagem.
ALINHANDO A CONVERSA
Você já parou para analisar o cenário mundial no qual
estamos inseridos?
Vivemos atualmente em uma sociedade globalizada, com acessos
tecnológicos múltiplos. Fronteiras desapareceram e distâncias foram encurtadas.
Presenciamos diariamente o outro em
nossos lares, seja por meio das mídias televisivas ou por meio da internet. O
mundo se transforma de forma síncrona e acompanhamos as mudanças, muitas vezes
de forma passível, assistindo como expectadores.
Mas precisamos compreender que as transformações requerem
uma atitude consciente, sobretudo de perpetuação de questões que são essências
nas culturas locais, para a promoção do desenvolvimento global. Inovar é a
palavra de ordem, não um modismo. Pode ser compreendida como uma possibilidade
para o redesenho de estruturas, sobretudo quando associada a preocupações com
temas como: desenvolvimento local, promoção do outro, desenvolvimento
sustentável, mercados emergentes e outros.
A economia criativa navega por um cenário de novas
possibilidades a partir da realidade na qual está inserida, ou seja, a inovação
na área de serviços, mas de forma organizada e com peculiaridades que se
apresentam ao tema para uma reestruturação futura.
Assim sendo, a comunidade do futuro é uma comunidade está em
construção, sendo as gerações que virão dependentes dela. A inovação e a
economia criativa irão, com certeza, contribuir para esta comunidade que está
em construção.
E você, de que forma está contribuindo? Ou, quem sabe,
iniciando seu processo de contribuição?
Vale a pena a
reflexão a seguir:
O homem, nesse contexto, é em sua essência singular, mas
precisa do outro para atuar e ser social. Partindo dessa premissa, é necessário
que ele repense e compreenda como a sociedade se transformou e de que forma
pode reinventá-la. Este é um convite de reflexão para cada indivíduo que
compõem o todo social.
Você é convidado especial para uma construção coletiva, que
some os esforços, conecte as experiências e contribua para a mudança de
comportamentos, buscando a consolidação do termo economia criativa em um
contexto de sociedade complexa e dinâmica.
Assim, “[...] a inovação é um processo que começa nas mentes
de pessoas imaginativas. Não é por outra razão que os modelos de inovação
sempre fazem alguma referência às fontes de ideias em alguma fase do processo
de inovação[...]” contemplada e
perpassando pelos principais tópicos que abordam o tema economia criativa.
Inicialmente serão apresentados os conceitos de inovação,
correlacionando-os aos aspectos fundamentais do desenvolvimento sustentável.
Posteriormente, será abordada a questão da inovação associada à economia
criativa, sustentando, estas poucas páginas, a pretensão de semear um novo
paradigma:
É dentro deste novo paradigma eu precisamos situar-nos para
sermos capazes de nomear os novos atores e os novos conflitos, as
representações do eu e das coletividades que são descobertas por um novo olhar,
que põe diante de nossos olhos uma nova paisagem.
Uma paisagem recoberta de pessoas com o modelo mental
contributivo para com o desenvolvimento econômico da sua localidade, por meio
da economia criativa, fazendo parte da consolidação deste conceito.
CONTEXTUALIZANDO A
INOVAÇÃO
Você já deve ter percebido o quanto tem se falado sobre
inovação nos últimos tempos. Mas porque será que todos falam? Será que é
somente para atender ao cenário econômico? Será que se inova somente para se
buscar competitividade industrial? Ou quem sabe existam questões sistêmicas que
possam ser consideradas?
Particularmente, adoro a ideia de uma visão mais abrangente,
e convido você a navegar nesta possibilidade comigo.
INICIANDO A REFLEXÃO
A partir de estudos, percebe-se que novos referenciais estão
sendo continuamente buscados para a criação de soluções que agreguem valor para
todos:
[...] na vida social de hoje, somos incessantemente
confrontados pela questão de se e como é possível criar uma ordem social que
permita uma melhor harmonização entre as necessidades e inclinações pessoais
dos indivíduos, de um lado, e, de outro, as exigências feitas a cada individuo
pelo trabalho cooperativo de muitos, pela manutenção e eficiência do todo
social. Não há dúvida de que isso – o desenvolvimento da sociedade de maneira a
que não apenas alguns, mas a totalidade de seus membros tivesse a oportunidade
de alcançar essa harmonia – é o que criaríamos se nossos desejos tivessem poder
suficiente sobre a realidade.
Temos, por meio dos processos criativos, o poder de
interferir em nossas realidades de forma consciente, quando buscamos a
articulação dos indivíduos em rede, trabalhando de forma sintonizada e
harmônica, potencializando o que define Elias (1994, p. 19): “[...] Não há
dúvida de que cada ser humano é criado por outros que existiam antes dele. Ele
cresce e vive como parte de uma associação de pessoas, de um todo social – seja
este qual for [...], e onde se localize, no passado, no presente ou futuro”. A
economia criativa abrange estes aspectos quando se propõe a ampliar a criar uma
teia de produção de riqueza cultural na sociedade atual.
Posicionar-se em relação a essa teia é ponto de partida para
a possibilidade de revisitar modelos e reestruturá-los, cada pessoa na sua
comunidade, atuando no seu próprio tempo, compreendendo o seu entorno e
construindo possibilidades de forma harmoniosa com um posicionamento emergente
para a vida de forma sistêmica, porque:
O que está em jogo não é propriamente a Terra, mas a
qualidade de vida humana e do processo civilizatório conforme nos acostumamos a
conhecê-los. Isto significa lidar com aspectos econômicos, tecnológicos,
sociais, culturais e políticos que vão além das questões do ambiente natural.
Tornou-se imperativo compreender que nunca poderemos construir e conservar um
sistema harmonioso se o ponto de partida for uma visão estreita.
Assim, neste contexto de sociedade ampliada, fundamental
será fortalecer o conceito de atuação em rede, como:
[...] um conjunto de nós interconectados. Nó é o ponto no
qual uma curva se entrecorta. Concretamente, o que um nó é depende do tipo de
redes concretas de que falamos. [...] Redes são estruturas abertas capazes de
expandir de forma ilimitada, integrando novos nós desde que consigam
comunicar-se dentro da rede, ou seja, desde que compartilhem os mesmos códigos
de comunicação [...] Uma estrutura social com base em redes é um sistema aberto
altamente dinâmico suscetível de inovação sem ameaças ao seu equilíbrio.
Sim, a atuação em rede, na qual um depende e é
interdependente dos outros, faz-se presente. Para avançarmos, precisamos dos
outros, com suas competências e seus olhares, muitas vezes divergentes dos
nossos. Para a economia criativa, a atuação em rede é condição essencial!
BASES TEÓRICAS QUE
SUSTENTAM A INOVAÇÃO
Mas e a inovação, onde se encontra? Encontra-se em: um processo de procura, descoberta,
experimentação, desenvolvimento, imitação, e, adoção efetiva de novos produtos,
de novos processos de produção ou novos arranjos organizacionais. A inovação
envolve uma atividade intrinsecamente incerta de pesquisa e solução de
problemas, baseada em variadas combinações de conhecimentos públicos e
privados, princípios científicos gerais e experiências idiossincráticas,
procedimentos sistematizados e competências tácitas.
Temos também o que poderemos chamar documento referência
para a inovação, que é o Manual de Oslo, que foi concebido pela Organização
para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), sendo a principal
referência no tema. Para esta publicação, “A inovação é um processo contínuo.
As empresas realizam constantemente mudanças em produtos e processo e buscam
novos conhecimentos, e vale lembrar que é mais difícil medir um processo
dinâmico do que uma atividade estática” (OCDE, 2005, p. 21). Isto é inovação.
Ainda de acordo com o Manual de Oslo (OCDE, 2005, p. 23),
existem quatro tipos de inovação:
1. Inovações
de produtos: envolvem mudanças significativas nas potencialidades de produtos e
serviços. Incluem-se bens e serviços totalmente novos e aperfeiçoamentos
importantes para produtos existentes
2. Inovações
de processo representam mudanças significativas nos métodos de produção e
distribuição.
3. Inovações
organizacionais referem-se à implementação de novos métodos organizacionais,
tais como mudanças em práticas de negócios, na organização do local de trabalho
ou nas relações externas da empresa.
4. As
inovações de marketing envolvem a implementação de novos métodos de marketing,
incluindo mudanças no design do produto e na embalagem, na promoção do produto
e sua colocação, e em métodos de estabelecimento de preços de bens e de serviço.
O documento aborda a inovação como: a implementação de um
produto (bem ou serviço) novo ou significativamente melhorado, ou um processo,
ou um novo método de marketing, ou um novo método organizacional nas práticas
de negócios, na organização do local de trabalho ou nas relações externas.
Então, para definir inovação, o básico é que haja novidade
ou significativa melhoria para determinado objeto, incluindo produtos,
processos e métodos em que as empresas são pioneiras e aqueles que foram
adotados de outras empresas ou organizações.
Paralelamente a esta questão, precisamos refletir se a inovação
promove o desenvolvimento econômico. Segundo Farfus (2008, p. 340), “afirma-se
que há um elo indissociável entre inovação e desenvolvimento econômico, na
medida em que a criação e difusão de novos conhecimentos alavanca o surgimento
de novos produtos e métodos”. Desse modo, o conceito de inovação apresenta os
seguintes aspectos, de acordo com o Manual de Oslo (OCDE, 2005), a inovação:
a) Está
associada à incerteza sobre os resultados das atividades inovadoras;
b) Envolve
investimentos que podem render retornos potenciais no futuro;
c) É o
substrato dos transbordamentos de conhecimentos;
d) Requer a
utilização de conhecimento novo ou um novo uso ou combinação para o
conhecimento existente;
e) Visa a
melhorar o desempenho de uma empresa com ganho de uma vantagem competitiva por
meio da mudança da curva de demanda de seus produtos ou de sua curva de custos
ou pelo aprimoramento da sua capacidade de inovação.
Para que isso ocorra, fundamental é a formação de um capital
intelectual orientado para essas questões, como também que outros setores
econômicos compreendam com clareza a importância dos processos inovadores para
diversos contextos organizacionais, com a clareza do que abrange o seu
conceito.
PARA ALÉM DA INOVAÇÃO
O desafio atual colocado é que as inovações estejam
alicerçadas no conceito de desenvolvimento sustentável em organizações
diversas. A apropriação desse conceito se faz necessária para diferentes
pessoas/profissionais; sobretudo, ainda é fundamental sua disseminação.
As primeiras discussões em relação ao tema datam de 1972, em
um documento intitulado The limits to growth, produzido pelo Clube de Roma. Tal
documento reforça a ideia de que questões relacionadas ao meio ambiente ocorrem
de forma mundial e acelerada. Muito aconteceu desde então e, em 1987, é
publicado um relatório, denominado Relatório de Gro-Brundland, elaborado por
uma Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, que define com
precisão o termo “desenvolvimento sustentável”, até hoje utilizado e não
conquistado:
O desenvolvimento que procura satisfazer as necessidades da
geração atual, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de
satisfazerem as suas próprias necessidades, significa possibilitar que as
pessoas, agora e no futuro, atinjam um nível satisfatório de desenvolvimento
social e econômico e de realização humana e cultural, fazendo, ao mesmo tempo,
um uso razoável dos recursos da terra e preservando as espécies e os habitats
naturais.
Para o cenário de inovações pautadas no conceito de economia
criativa, ainda podemos refletir sobre inovações que promovam organizações
sustentáveis, que representa: simultaneamente procura ser eficiente em termos
econômicos, respeitar a capacidade de suporte do meio ambiente e ser
instrumento de justiça social, promovendo a inclusão social, a proteção às
minorias e grupos vulneráveis, o equilíbrio entre gêneros, etc.
Ainda vale trazer, indo além do tema inovação, a ideia de
organizações em aprendizagem, que são: as organizações em que as pessoas
expandem continuamente sua capacidade de criar os resultados que
verdadeiramente desejam, onde novos e amplos modelos ou pensamentos são
educados, onde a aspiração coletiva é um conjunto livre, e onde pessoas estão
aprendendo continuamente como aprender juntos.
Fundamental para o conceito de economia criativa é a
inovação, associada ao conceito de desenvolvimento sustentável, compreendendo a
importância de organização sustentável e ainda com uma “pitada” de organizações
em aprendizagem.
SEM LONGOS DISCURSOS
De forma breve, estas páginas tiveram como objetivo instigar
você, leitor, a se aprofundar no tema inovação, compreendendo seu
posicionamento estratégico para o redesenho social. Dessa forma, tive a
pretensão de somente apresentar alguns conceitos fundamentais e essenciais para
que você continuasse a descobrir a inovação como um universo de possibilidades,
ainda mais, se associado ao conceito de economia criativa.
Há que se considerar, entretanto, que a inovação é essencial
para a manutenção das organizações no século XXI, e aquelas que não
compreenderem esta importância talvez deixem de existir no mercado globalizado.
A economia criativa também começa a ocupar o seu lugar de destaque neste
cenário. Ampliar o olhar, quando se propõe a realizar algo grande, não
necessariamente em tamanho, mas em propósito, é essencial, e a inovação
associada a outros aspectos teóricos abordados pode levar você, leitor, à
realização de ideias inovadoras, muito além do que se propôs inicialmente.
Convidei você, no início deste artigo, para navegar comigo
em um cenário sistêmico para a inovação. Espero que sua curiosidade tenha sido
despertada, pois somente em poucas páginas o tema não se esgota, e acredito
que, como processo criativo, não existe possibilidade de esgotamento, pois, a
partir de novas conexões, novas redes, referenciais e experiências, você pode
ir além e fazer com que a economia criativa produza mudanças significativas no
seu contexto local, contribuindo para o movimento global.
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