![]() |
(Nome: Hot Air Ballon - Autor: gbatistini) |
A inovação entrou definitivamente na agenda do executivo brasileiro. Isso tem acontecido sobretudo, devido a influência do Design thinking, movimento originário da Ideo, que traz princípios do design como base para o desenvolvimento de estratégias inovadoras de negócio.
Acredito que isso por si só foi um grande avanço. Acerca de
15 anos atrás, a palavra criação não era sequer mencionada nas organizações. As
ações corporativas partiam sempre de algum modelo de referência existente.
Exemplos de empresas inovadoras ainda não tinham caído no
domínio público. A Apple estava retomando sua atuação inspiradora através do genial
Steve Jobs.
Mas como toda prática que acaba sendo rapidamente difundida
no mercado, acredito que existam pontos importantes ainda não discutidos, se tivermos
em mente que, de lá pra cá, a inovação passou a ser percebida como uma
necessidade a ser viabilizada pelas organizações.
Num primeiro momento, as organizações procuraram formas familiares
de lidar e interagir com seus problemas de forma inovadora, preferindo a
sistematização do processo de desenho de soluções.
Naquele momento, não houve um grande questionamento referente
à necessidade de se buscar formas de desenvolvimento de uma mentalidade mais
criativa e inovadora nos negócios.
O mercado já começava a reconhecer e buscar talentos
criativos. Apresentar-se como porta voz da inovação, gerava percepções
positivas. Mas isso nem sempre fazia com que tivéssemos concepções realmente
originais de negócio.
Com a prática consultiva, percebi, entretanto, que o
resultado e o tipo de ideias geradas por essas práticas, possuíam um fundo
comum, independente do grupo e do problema em foco.
Algo fazia com que os grupos lançassem ideias que se
assemelhassem a modelos de empresas inovadoras bem sucedidas, principalmente
quando este modelo era inspirado por empresas de tecnologia. Os grupos se
ocupavam mais em parecer inovadores que criar livremente.
Nesse momento sempre me perguntava o que acontecia para
obtermos ideias tão pouco expressivas e o que isto de fato significava, já que
estávamos atentos a todos os pormenores que as metodologias preconizavam.
Passei a entender que para além da aplicação cuidadosa de metodologias,
estava no fundo lidando com a imaginação humana em toda a sua potencialidade
realizadora. Na medida em que evoluía nessa direção, passei a compreender que a
imaginação podia ser desenvolvida e aprimorada, levando a um alargamento dos
horizontes e potenciais das pessoas.
Para tanto, é importante entendermos que o insight criativo
não deve ser buscado como resultado da sistematização, ainda que esta
sistematização seja amparada por princípios de descoberta. Isso é uma falsa
compreensão do fenômeno!
A criação vem de um processo dinâmico e complexo que leva a
mente humana a imaginar uma resposta nova. Esse dinamismo criativo deve nos
conduzir para além dos caminhos anteriormente trilhados, ainda que estes tenham
se mostrado bem sucedidos.
Isso porque, entre a primeira percepção, até chegarmos ao
momento de Eureka, temos uma
infindade de pensamentos e padrões de pensamento, que
poderão se desenvolver em novas direções, e que, em última análise, não podem
ser antecipadas ou previstas.
O campo da criatividade é mais amplo e multiforme do que
podemos esperar.
Acredito que pouco espaço se deu para que entendamos que a
imaginação no fim das contas é o que realmente importa.
No desdobramento imaginativo, novos dados são criados na
mente ativa, permitindo criação de novas sínteses que não se apoiam na
experiência precedente. Esse processo dinâmico possui um caráter generativo e
positivo. É a fonte primária pelas quais novas formas de pensar surgem.
Nesse sentido, o insight criativo é resultante da imaginação
em movimento, que dentro de uma avaliação mais ampla, gera os caminhos
possíveis, interage e cria novas realidades.
Se passarmos a aceitar isso, que a resposta criativa é
resultado do desenvolvimento da nossa imaginação, deveríamos nos ocupar em entender
como levar a imaginação ao seu maior esplendor.
Ao invés disso percebo, sobretudo, uma tentativa de
justificar formas inovadoras de pensar, valendo-se de uma pesquisa
significativa da realidade de nossos clientes e da experimentação controlada de
novos produtos e serviços.
De uma maneira muito fundamental, imaginar novos mundos
significa negar a realidade imediata e acessível por todos e apostar na
capacidade subjetiva dos indivíduos. E esse tipo de aposta é ainda estranha no
mundo corporativo.
Por conta disso, creio que o design thinking ampara a sua perspectiva numa espécie de engenharia
reversa da inovação. Partindo da pesquisa de como as soluções vieram a se
tornar sucessos de mercado, buscou criar formas para fazer que as pessoas enxergarem
mais, ao invés de imaginarem mais e diferentemente.
Evidentemente que muitas ideias surgirão, mas creio que
muitas delas não suscitarão novas crenças nos grupos e líderes e por causa
disso a transformação não vem.
Pense nisso, na próxima vez que aquela dinâmica criativa não
funcionar do jeito que você esperava, talvez não tenha faltado empenho na
aplicação da metodologia, talvez tenha faltado um despertar genuíno para a
imaginação.
Marcelo Alessandro Fernandes é Engenheiro de Produção pela UFSC. Pesquisador das áreas de Imaginação, Cognição Criativa e Psicodrama. Possui Mestrado em Inovação também pela UFSC e formação em Psicodrama e Sociodrama pela ABPS. É membro do Comitê Executivo da Cátedra Ozires Silva de Empreendedorismo e Inovação Sustentáveis. (e-mail de contato: marceloalessandro@gmail.com)
(por Marcelo Alessandro Fernandes)
Marcelo Alessandro Fernandes é Engenheiro de Produção pela UFSC. Pesquisador das áreas de Imaginação, Cognição Criativa e Psicodrama. Possui Mestrado em Inovação também pela UFSC e formação em Psicodrama e Sociodrama pela ABPS. É membro do Comitê Executivo da Cátedra Ozires Silva de Empreendedorismo e Inovação Sustentáveis. (e-mail de contato: marceloalessandro@gmail.com)
Nenhum comentário:
Postar um comentário