A primeira vez que o vi pessoalmente, e que confirmou mais uma vez a semelhança física com o Dr. Smith, foi lá pelo início dos anos 2000 em uma reunião na FIESP. Entretanto, nunca tinha tido a oportunidade de conversar, interagir com o “Dr. Ozires”. Graças a Cátedra criada em sua homenagem pelo ISAE/FGV, esse momento se aproximava. Ele chegou até a sala onde o aguardávamos e, já ao cumprimenta-lo, senti aquele olhar profundo e direto, que tantas coisas já havia vivenciado, que te fulmina, gerando cumplicidade e conexão. De imediato, cativou a todos os presentes: uma mescla de extrema humildade, sorriso cativante, experiência vivida e fluidez na conversa que logo se encaminhou para uma primeira (de muitas) estória falando “...daquela vez...” que, ainda jovem piloto voando para o serviço postal brasileiro, pilotando um Catalina (modelo de hidroavião), aterrissou num afluente do Rio Amazonas na fronteira Noroeste do Brasil (provavelmente com o Peru ou a Colômbia, imagino). À beira do rio, um matuto observava aquela cena improvável de um avião enorme pousando na água e indo aterrar em sua direção. O copiloto abre a escotilha localizada no teto da cabine do avião e dispara com certa ironia:
- Bom dia! Aqui que termina o Brasil?
O Caboclo sem titubear:
- Não, aqui começa o Brasil!
Dr. Ozires, observando aquela inusitada cena e usando de sua incrível capacidade de tirar aprendizados de todas as situações tem um “insight”: ...um caboclo matuto, no meio da Amazônia, que tenha uma visão grandiosa de nação como essa é uma coisa notável. A partir daquele dia, segundo ele, reafirmaram-se suas convicções de que o Brasil tem jeito e haveria sim de se constituir numa grande e integrada nação. Depois de arrancar gargalhadas dos presentes, aquele momento de reflexão mais profunda e “processamento” da lição aprendida. Alguns anos depois desse fato narrado, voava o primeiro protótipo do “Bandeirante” e estava criada a Embraer, hoje flertada pela Boeing. O Dr. Ozires, que nos empresta seu nome para conduzir o prêmio e a cátedra de empreendedorismo e inovação sustentável, é isso: uma alma iluminada que nos faz acreditar na engenhosidade humana de pensar, idealizar e trabalhar com retidão de propósitos, independente do que os outros pensem ou de qual seja o “entorno”, o contexto vigente. O que seria isso senão uma sinapse que dispara e catalisa o potencial de inovação e empreendedorismo contido nas pessoas que o conhecem? No contexto de país que nos encontramos, Dr. Ozires é quase um anti-herói: octogenário, longe dos holofotes, lidera pelo exemplo de coisas VIVIDAS e FEITAS com extrema humildade e um enorme desejo (e iniciativa) de compartilhar, integrar, sempre acreditando na capacidade de transformação através da educação. O Prêmio e a Cátedra Ozires Silva é a tentativa de multiplicar, amplificar e perenizar este lampejo de maestria contido em um homem muito maior que seu currículo, inspirando pessoas empreendedoras num ambiente extremamente carente de lideranças e valores. E assim tem sido nos últimos dez anos: uma estória contada, várias gargalhadas e uma reflexão profunda e inspiradora fica pairando sobre nós. Obrigado “Dr. Ozires”!
(texto elaborado por ocasião da realização da 11ª edição do Prêmio Ozires Silva de Inovação e Empreendedorismo Sustententável, que premiou os projetos de inovação sustentável no dia 07.02.18 com a marcante presença de Ozires Silva em Curitiba).